Vale tem aval para projeto de US$ 20 bi

OESP, Economia, p. B15 - 28/06/2012
Vale tem aval para projeto de US$ 20 bi
Empresa consegue licença ambiental prévia para complexo de minério de ferro Serra Sul, no Pará, o maior projeto do setor hoje no mundo

MÔNICA CIARELLI
GLAUBER GONÇALVES
SÉRGIO TORRES / RIO

O aguardado projeto de minério de ferro Serra Sul, da Vale, no Pará, está mais perto de sair do papel. A mineradora já tem nas mãos a licença ambiental prévia do investimento de quase US$ 20 bilhões, o maior do setor em andamento atualmente no mundo.
Os superlativos que envolvem o projeto, com capacidade para produzir 90 milhões de toneladas por ano, levaram o presidente da Vale, Murilo Ferreira, ao Planalto. Ontem, ele detalhou os planos de expansão da companhia para a presidente da República, Dilma Rousseff. "Ela deu palavras de estímulo à Vale e demonstrou confiança na capacidade da empresa de concretizar o empreendimento", contou.
Entretanto, Serra Sul não é uma unanimidade no governo. O parecer técnico do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) foi desconsiderado pelo Ibama ao emitir a licença para o empreendimento da Vale em Serra Sul. O analista ambiental Edilson Esteves, chefe da Floresta Nacional de Itacaiúnas (vizinha à Floresta Nacional de Carajás), mostrou-se surpreendido ao saber ontem da licença. Ele é um dos responsáveis pelo parecer do instituto, gestor das florestas nacionais, unidades governamentais de preservação ambiental.
"Destaco que o posicionamento da equipe técnica do ICMBio ao analisar os estudos foi contrário à autorização por parte deste instituto (autarquia federal vinculada ao Ministério do Meio Ambiente e criada a partir do desmembramento, há cinco anos, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - Ibama)", afirmou Esteves, por e-mail. Procurado, o Ibama não respondeu à declaração.
Projeto. A Vale rebate as críticas argumentando que remodelou o projeto para retirar o máximo possível de atividades de dentro da floresta - entre elas, unidades operacionais e estruturas logísticas. Por isso, o minério será transportado em correias de 30 a 40 quilômetros para áreas sem restrições ambientais.
Com o aval para construção de Serra Sul, a Vale pode elevar a produção do Sistema Norte dos atuais 109 milhões de toneladas para 230 milhões de toneladas. Para isso, conta ainda com o reforço de 40 milhões de toneladas de Serra Norte.
"Em 2017, devemos produzir 460 milhões de toneladas, considerando que nossa produção (total - sistema Norte e Sul) hoje está na casa de 310 milhões. Teremos aumento substancial até lá", diz a empresa.
Em seu relatório, o Barclays diz que o já esperado aval do Ibama traz o crescimento de volta para o radar da Vale. De acordo com o banco, as demoras e complicações na obtenção de licenças para projetos de minério de ferro são uma carga pesada para as empresas do setor.
A qualidade do minério que será extraído em Serra Sul é uma das principais vantagens do projeto. "Antes de ser produzido, o minério já está vendido",disse o diretor executivo de Estratégia da Vale, José Carlos Martins. Segundo ele, o projeto também atrai por ter um custo de produção extremamente baixo. "Qualidade, custo e sustentabilidade tornam o projeto único."
Martins admitiu que a empresa estava há muito tempo sem conseguir licença para um grande projeto, como Serra Sul, e se mostra confiante na obtenção da licença definitiva. A expectativa é que todas as licenças sejam obtidas em até um ano. O projeto entra em operação em 2016.


Relíquias serão destruídas

Cenário: Sergio Torres

Milhares de cavernas com vestígios da ocupação pré-histórica da Amazônia tendem a ser destruídas com o início da mineração ferrífera na vertente sul da Serra de Carajás, recém autorizada pelo governo. Não há como preservá-las. A extração só é possível com a demolição dos terrenos em que o minério se deposita.
A descoberta das relíquias arqueológicas, embora não citada no comunicado oficial que a Vale distribuiu ontem, é a razão do atraso do projeto. Pela legislação brasileira, cavernas que tragam informações sobre o passado milenar da população não podem ser destruídas. As cavernas ainda não foram sequer estudadas por especialistas. Há dez anos a existência delas era pouco conhecida, pois aquele trecho da Serra Sul era praticamente virgem, recoberto por florestas e vegetações típicas de terrenos em que há minas de ferro.
Pesquisas feitas nos últimos oito anos por arqueólogos e espeleólogos (estudiosos de cavidades subterrâneas) contratados pela Vale concluíram pela relevância histórica de grande parte das 174 cavernas visitadas em um universo de 250 mapeadas, como mostrou o Estado em 2 de outubro de 2011.
A Vale dividiu Serra Sul em setores A, B, C e D. O projeto de mineração anunciado restringe-se por enquanto ao D. Os quatro estão dentro da Floresta Nacional de Carajás, unidade de proteção ambiental do governo gerida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Os vestígios arqueológicos começaram a surgir nos últimos dez anos, achados principalmente por pesquisadores patrocinados pela Vale. Foram localizados materiais deixados por caçadores e coletores de frutos que habitaram a região a partir dos últimos 10 mil anos. Os especialistas classificaram as cavernas como de "relevância máxima".

OESP, 28/06/2012, Economia, p. B15

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,vale-tem-aval-para-projeto-de-us-20-bi-,892720,0.htm
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,reliquias-serao--destruidas-,892724,0.htm
Mineração:Empresas

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