Turismo em parque no extremo Norte do País beneficia ribeirinhos

ICMBio - www.icmbio.gov.br - 15/10/2008
O Parque Nacional do Cabo Orange, no Amapá, acaba de lançar um projeto pioneiro que poderá, por meio do ecoturismo, melhorar a condição de vida dos ribeirinhos que vivem no extremo Norte do País. Batizado de "Experimentação do Turismo de Base Comunitária no Parque Nacional do Cabo Orange - Projeto Tartaruga Imbricata", a proposta prevê uma aliança entre a unidade, a população dos vilarejos isolados pelos rios e mangues dos municípios de Oiapoque e Calçoene e os visitantes interessados em conhecer a região amazônica. Com 619 mil hectares, o parque faz fronteira com a Guiana Francesa e tem bom potencial turístico.

A proposta, lançada na terça-feira (14), é parte do Plano de Uso Público do parque e fruto de uma parceria entre a unidade e o grupo de turismo francês Yatoutatou, que atua na Guiana Francesa. De acordo com a analista ambiental e chefe substituta do Parque Nacional do Cabo Orange, Kelly Bonach, a presença do turista colabora para a proteção da mata e da biodiversidade, visto que ele compete com as atividades ilegais e traz uma nova alternativa de renda para as comunidades do entorno. "A região do Parque é bem rústica, com 200 km de mangues e muitas áreas alagadas. Os barcos são a única forma de locomoção porque a dificuldade de acesso a áreas de terra firme é enorme. Ainda assim, infelizmente, a exploração de algumas espécies já chegou até aqui. Embora bem preservada, a unidade vem sofrendo ações constantes de embarcações pesqueiras vindas do Pará", lamenta Kelly.

Para a analista, o Projeto Tartaruga Imbricata promoverá a gestão compartilhada do Parque com as comunidades, a divulgação das riquezas naturais e culturais e uma maior confiabilidade do homem ribeirinho em relação à Unidade de Conservação. "O turismo francês é uma realidade no Oiapoque. Dados da Polícia Federal revelam que a região recebe, todos os dias, cerca de 300 franceses. Queremos, então, que esse turismo seja integrado às necessidades locais e se transforme em um fomentador de melhorias", explica. "É interessante que, além de ter a oportunidade de apreciar as belezas cênicas do Parque, eles vivenciem a rotina dos ribeirinhos, participando diretamente de alguma atividade", acrescenta Kelly.

Desde terça-feira, e até a sexta (17), uma equipe de 12 pessoas, incluindo analistas do PNCO, moradores de vilas locais e profissionais de turismo da Guiana Francesa visita, a bordo da lancha francesa Papijo, as comunidades de Taparabú, Vila Velha do Cassiporé e a sede do parque, em Taperebá. "Essa viagem é o primeiro passo concreto do Projeto Tartaruga Imbricata, que é experimental e terá duração de dois anos. Nela, promoveremos reuniões com os ribeirinhos e planejaremos a primeira experiência com turistas, já programada para dezembro de 2008", conta a representante do PNCO. Na expedição, será discutido e avaliado de que forma os visitantes estrangeiros poderão contribuir para a construção de algo significativo e interessante para as comunidades e para o Parque.

Empolgada com a idéia, a analista ambiental adianta que se a fase experimental apontar para a concretização do projeto, as comunidades serão preparadas para se organizar. Assim, poderão atender tanto suas próprias necessidades, quanto a dos grupos de turistas franceses. "Como representantes do Parque, planejamos auxiliar na formação de associações e cooperativas. Essa iniciativa ajudará a população interagir com os visitantes. Sempre, é claro, priorizando a preservação do Parque e qualidade de vida dos locais", lembra.

Kelly Bonach, que é médica veterinária, cita um exemplo de como a aliança entre a unidade de conservação, os ribeirinhos e os turistas pode funcionar. "Vamos supor que o Parque precise recuperar uma população de tartarugas. Nosso projeto incentivaria a comunidade a cuidar da área de reprodução, dos ovos e dos filhotes manejados. O turista que visita, por sua vez, seria motivado a investir na comunidade. Doações de ferramentas necessárias ao cuidado desses animais ou até mesmo de materiais para a reforma de estruturas físicas que beneficiem os ribeirinhos são itens que sempre serão bem-vindos", cita.

Na fase de experimentação, os turistas terão o barco e a base do Parque como apoio. Mas, os analistas ambientais do PNCO estão em negociação com a Fundação O Boticário de Conservação da Natureza. "Se fecharmos mais essa parceria, os ribeirinhos poderão construir cabanas e banheiros rústicos para que os turistas possam passar uma noite ou duas em redes. Por enquanto, os grupos experimentais serão recebidos na base do Parque, em Taperebá, e o barco regional, que tem 12 camas, banheiro e cozinha, apoiará as atividades", revela Bonach.

A comunidades ribeirinhas vivem da agricultura de subsistência e da pesca. Eles plantam melancia, mandioca, banana e cacau. Durante a concepção do proposta de experimentação, representes comunitários visitaram a Guiana Francesa com os analistas do Parque para conhecer o turismo no território francês. O projeto está licenciado pelo Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (Sisbio) e busca o apoio de universidades e órgãos, públicos ou privados, dispostos a capacitar os ribeirinhos ao longo desses dois anos. O objetivo é formar guias turísticos e habilitar moradores a trabalhar com a venda de produtos manufaturados nos vilarejos. A concepção do projeto também foi compartilhada, discutida e aprovada pelo Bioma Amazônia, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.

O Parque

O Parque Nacional do Cabo Orange, criado em 1980 no Norte do litoral amapaense, ocupa uma faixa litorânea de 200 km de extensão, incluindo uma área marítima de 10 km mar adentro. É constituído por mangues, campos e florestas alagados e uma pequena porção de mata em terra firme na porção sul.

O principal eixo de penetração é o Rio Cassiporé, cuja ocupação humana, pouco densa, é antiga. Constituída por pequenos povoados disseminadas ao longo do rio, esta ocupação concentra-se hoje em duas vilas principais: a Vila de Taperebá e a Vila Velha. Situada na zona de amortecimento, a última é a mais povoada e conta com aproximadamente 40 famílias e trezentos habitantes. Ao sul do Parque, na área de entorno, está a Vila de Cunani, teatro de vários episódios da história amapaense e provavelmente área de quilombo.

O PNCO foi a primeira unidade de conservação federal criada no Amapá, estado que tem atualmente 55% de seu território protegido por parques, reservas e terras indígenas. Suas terras foram habitadas por várias populações indígenas e, posteriormente, disputadas ao longo de séculos por portugueses, franceses, ingleses e holandeses. Os registros materiais e culturais da história dessa região estão presentes em vários pontos do parque nacional.
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