Seis mil seringueiros do AC podem perder o apoio da ONG Saúde Sem Limites

A Gazeta-Rio Branco-AC - 01/11/2001
Iniciada em 1991, a experiência da Saúde Sem Limites na Reserva Extrativista do Alto Juruá é pioneira e representativa. Atualmente, a falta de investimentos põe em risco a continuidade do trabalho. A Reserva é uma das regiões com uma das maiores biodiversidades do planeta. Está localizada no extremo oeste do Acre, na divisa com o Peru. A cidade mais próxima, de referência para as famílias dos seringueiros, é Thaumaturgo, que não possui um centro de saúde especializado. Qualquer tratamento especial precisa ser encaminhado para Cruzeiro do Sul, a três dias de viagem de barco a motor ou uma hora de vôo fretado. Há bem pouco tempo esses povos sequer eram notados, às vezes não chegavam a ser considerados em estatísticas oficiais.
Na área da reserva moram seis mil seringueiros e pequenos agricultores. O fato é que essa é uma população especial, de sobrevivência difícil. Desde 1991 Saúde Sem Limites vem desenvolvendo na região projetos de atenção primária à saúde. As principais dificuldades encontradas no início do trabalho começaram pelos meios de transporte, o analfabetismo, o atraso social, os problemas políticos e o próprio clima da região que é muito úmido. Atualmente, a situação dos moradores tem melhorado, o analfabetismo diminuiu, mas ainda necessitam da continuidade de trabalhos relacionados à saúde. As doenças mais freqüentes não são diferentes de outras regiões da Amazônia, como as respiratórias, malária, e parasitoses.

Experiência pioneira na região
A chegada da Associação Saúde Sem Limites, com a demarcação da Reserva Extrativista do Alto Juruá e representada pelo médico Dr. Hélio Barbin Júnior desde 1984, proporcionou uma série de benefícios diretos e indiretos. Hoje, já estão formadas 53 parteiras que são, referência em toda a região - e que continuam precisando de capacitação e apoio constantes -, e 20 agentes de saúde devidamente capacitados, muitos dos quais contratados pelo sistema de saúde da Secretaria Municipal de Saúde, alguns foram eleitos vereadores. Não é um trabalho fácil, foram necessários vários estudos e muitas viagens para a Reserva que resultaram no aperfeiçoamento das ações. Desde 1996 campanhas regulares de prevenção de câncer de colo de útero e mama são realizadas a cada dezoito meses, bem como as ações da saúde reprodutiva, entre elas, capacitação de parteiras tradicionais e agentes de saúde, programas de pré-natal e DSTs e Aids. É importante ressaltar que essa é a primeira experiência em saúde reprodutiva e sexualidade nesta região.

Novo financiador é necessário
Atualmente, o projeto está sendo financiado por organizações internacionais, como a Mac Arthur, desde 1996 e movimenta cerca de US$ 80 mil dólares por ano, o que possibilitou uma melhora na qualidade em saúde na reserva. Mas, a instituição financiadora comunicou à Saúde Sem Limites que não poderá dar continuidade ao convênio, e isso representa sérias preocupações, tais como: Como ficarão esses povos em relação à saúde? E o andamento do projeto que levou tanto tempo para ser desenvolvido e implantado?
Março de 2002 é o prazo que a Saúde Sem Limites tem para encontrar um novo colaborador, investidor capaz de compreender as dificuldades, disposto a contribuir para a sobrevivência desses povos, e conscientes da importância da sobrevivência das famílias de seringueiros para a preservação da floresta e sua biodiversidade.
A Associação Saúde Sem Limites é uma organização não governamental brasileira, sem fins lucrativos, que atua desde 1989 no Estado do Acre, especializada em apoiar e assessorar populações indígenas e tradicionais que vivem em regiões de difícil acesso geográfico na construção de um sistema de saúde de qualidade, democrático, culturalmente adequado e sensível às questões do gênero. Hoje, trabalha também com populações indígenas na região do Alto Rio Negro/AM e com os índios Pankararu em Pernambuco.
(-A Gazeta -Rio Branco-AC-1/11/01)
UC:Reserva Extrativista

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