Os maiores tesouros da Serra dos Carajás

EPTV - http://eptv.globo.com - 18/03/2011
A equipe do Terra da Gente deste sábado (dia 19/03) viaja até o Pará e registra imagens, fotos e cantos de pássaros que são verdadeiros tesouros da Floresta Amazônica.O destino é a maior mina de ferro do mundo que tem uma beleza pouco conhecida: a Floresta Nacional de Carajás, uma área de preservação ambiental que abriga 600 espécies catalogadas de pássaros. Uma unidade de conservação federal, administrada pelo ICMBio e que tem o apoio da mineradora para sua gestão e proteção. A equipe contou também com a ajuda do experiente fotógrafo Édson Endrigo, um especialista em pássaros que deixou a capital São Paulo e viajou mais de 2.300 Km levando na bagagem câmera, teleobjetiva de 600 milímetros camuflada, dois gravadores, caixa de som e microfone. O resultado é uma série de flagrantes de pássaros raros: a Maria-Bonita, o Cabeça-de-Prata, o Anhambé-Azul e o Toron-toron.

O maior tesouro

A exploração e a natureza convivem juntas, aves raras e savanas amazônicas são exemplo de superação. O destino da equipe desta vez é a Floresta Nacional de Carajás, no estado do Pará, a 750 quilômetros da capital, Belém.

Pelo caminho,a estrada PA-150, que virou manchete nos anos noventa. Dezessete de abril de 1996, os manifestantes bloquearam a rodovia em Eldorado dos Carajás. Às quatro horas da tarde chegaram os policiais. Começaram o tiroteio. Hoje, troncos de castanheira representam as 19 pessoas que morreram no local.

No mesmo rumo sul, a região tem outro ponto que já foi notícia. Do asfalto a uma estradinha de cascalho. Hoje é deserta, mas era a mais movimentada do sul do Pará. Foi revirada pelos garimpeiros.

No local uma montanha recortada por degraus, onde funcionou o que ficou conhecido como o maior formigueiro humano da história recente do Brasil. É a famosa Serra Pelada.

Em 1983, o formigueiro fervia, milhares de pessoas se entregam ao esforço da escavação do absurdo: um único e imenso buraco de esperança, o maior garimpo a céu aberto do mundo.

No auge, eram 80 mil garimpeiros. Calcula-se que pelo menos 30 toneladas de ouro foram retiradas de forma rudimentar, em sacos carregados nas costas. A desocupação começou em 1992, mas a área voltou a ser invadida repetidas vezes.

Hoje, a lagoa silenciosa esconde quase duzentos metros de ilusões submersas. As ruas são o retrato da decadência: carros velhos e moradores desconfiados permanecem como personagens do faroeste brasileiro que a maioria prefere esquecer.

O ouro verde

Da corrida do ouro, a equipe segue para os caminhos do ferro. Nossa história está na boca de um outro empreendimento gigantesco, só que moderno: em vez de caos, estratégia. No lugar de multidões, tecnologia.

A Serra dos Carajás, um ponto que a terra escolheu para guardar uma das maiores reservas de ferro do planeta. Quando se fala em Carajás, logo se lembra de mineração. Não é por acaso, é a maior mina de ferro do mundo.

O que é menos conhecido é que lá também está uma importante área de preservação ambiental, que tem uma quantidade de espécies de pássaros catalogadas, nas áreas verdes que circundam as minas.

Poucos lugares no mundo têm isso, de forma que não é exagero dizer que a riqueza que sai de dentro da terra não é maior que do que a vida que voa por cima dela.

A floresta é imensa, medida em centenas de milhares de hectares. Os pássaros são pequenos, estão na mata. Mas como encontrá-los?

Para encontrar os pássaros, o guia é o guarda florestal Joraci Grígolo que há dezessete anos acompanha os pesquisadores que vêm pra cá em missão científica, por norma do ICMBio.

Para capturar a beleza da única forma permitida, temos Edson Endrigo, fotógrafo hiperativo, apaixonado e especializado em pássaros. Carrega câmera, teleobjetiva de seiscentos milímetros camuflada, dois gravadores, caixa de som e microfone.

Funciona assim: primeiro, Joraci escolhe o ponto, aí o Edson entra em ação, toca o canto da ave que já traz gravado, se a ave se aproxima, ele tenta gravar a voz do bicho que apareceu e repete no aparelho.

A primeira investida: uma árvore seca com os galhos carregados de vida, buracos e comida. A madeira fornece possibilidade de ninho e descanso.

Em meia hora, é possível observar cinco espécies aproveitando as ofertas da velha árvore. A andorinha-doméstica-grande, o suiriri, a viuvinha, o pica-pau-de-barriga-vermelha e o casal de periquitos.

Mais moradores vão aparecendo: o guaracava-de-barriga-amarela, o anhanbé-coroado também se mostra. Um bando de japins, inconfundíveis, no contraste de preto e amarelo, os espertalhões construíram a colônia bem ao lado de um cupinzeiro, moram ao lado da fonte de alimento.

As tiribas preferem o coquinho verde do açaizeiro. Bem pertinho dali, os saguis também observam a movimentação. É preciso reparar bem pra descobrir o filhotinho agarrado à mãe.

Edson tem a intenção de fotografar mais quinze espécies muito raras. Mas segundo o guia, Joraci, a tarefa é difícil. Num ponto da floresta com a maior probabilidade a segunda investida. Olhos, ouvidos e aparelhos, tudo em busca da Maria-bonita.

O bicho aparece... arisco, longe e muito desconfiado. Mas a missão se completa: a maria-bonita se mostra, primeiro de costas e depois, em toda a sua beleza.

Verde pra todo lado

No meio da Floresta Amazônica, o núcleo urbano de Carajás começou a ser construído em 1985. No meio da floresta amazônica, é um tabuleiro de xadrez cercado de mata por todos os lados. No local moram os funcionários da mineradora e suas famílias. São seis mil habitantes, sem contar as famílias que estão há muito mais tempo.

A 15 quilômetros dali, o domínio é das máquinas. A mineração deixou a montanha nua. A produção é um prodígio industrial: 100 milhões de toneladas de ferro por ano. O minério tem 66% de pureza. O termo "Carajás" é um padrão internacional de qualidade.

Pode parecer contraditório, mas a riqueza do solo ajudou a salvar o entorno: as minas ficam dentro de um complexo de seis unidades de conservação. Fora das áreas de preservação a mata não existe mais: virou pasto e foi desmatada pela atividade madeireira.

O preço ambiental é a área de oito mil hectares impactada pela atividade mineradora. Segundo o chefe de meio ambiente da mineradora, Paulo Bueno, "embora não haja como minerar sem causar impacto, já que é no subsolo que o minério está. Eles apóiam a fiscalização e são parceiros do ICMBio".

Para o chefe da Floresta Nacional de Carajás, Frederico Martins, A parceria pode melhorar, mas já serve de exemplo.

Avanço de lavra, assim é chamado o ponto onde a borda para onde a mina cresce. O processo começa com as máquinas, retiram a terra que não é necessária e abrem degraus que vão servir de estrada para os caminhões mais tarde.

Eles vão descendo até chegar no minério, a parte mais preta que interessa, vai ser extraído. Este ponto é muito importante porque é onde os biólogos estudam o conflito entre a mina e a floresta.

Próximo da mina, espécies como veado-mateiro, veado-fuboca, anta, cotia, jaguatirica, sussuarana e até o maior felino brasileiro, a onça pintada são difíceis de encontrar. Mas ainda bem que na flona, área adjacente ao impacto tem muito espaço pra esses animais viverem e se adaptarem.

Savana amazônica

A floresta parece interminável. Mas para o Instituto Chico Mendes de conservação da biodiversidade, o tamanho não autoriza o uso indiscriminado.

Para os biólogos, a área de savana é um acontecimento especial, uma raridade na Amazônia. Para os geólogos, uma futura mina a ser explorada.

Os estudos geológicos apontaram que a reserva tem pelo menos quatro bilhões de toneladas de minério de ferro. A rocha é mais pesada por que é mais densa, faz um barulho de metal. Sobre este solo, não cresce floresta e por isso esta vegetação é tão importante: ela só existe lá.

De acordo com Frederico, por causa da condição de solo a vegetação que se estabeleceu é uma vegetação adaptada a esta condição.

Como existe uma redoma de floresta ao redor dela, criou-se um isolamento geográfico e este isolamento é totalmente favorável ao endemismo, ao surgimento de espécies restritas, principalmente na botânica, existem muitas espécies restritas à savana, também chamada de campo rupreste ferruginoso. Um exemplo é o abacaxi-crioulo; outra é uma espécie de canela de ema.

Raridades vem do céu

Alguns pássaros são simbólicos, se você ouvir o barulho que ele faz, quase com certeza você está na Amazônia. É o canto do fri-frió, que apesar de ser muito conhecido, é um pássaro pequeno e muito arisco.

Como o canto é mais conhecido que a ave, para muitos, esta é "a voz da Amazônia. Além do fri-frió, nossa equipe teve outra oportunidade rara. Conseguiu encontrar a araponga-de-barbela.

Diferente do fri-frió, a equipe conseguiu avistar só um exemplar da espécie. O que torna o encontro ainda mais especial. Foi no galho mais alto, da árvore mais alta do lugar.

Por lembrar a batida de um martelo numa bigorna, a araponga também é conhecida como "ferreiro".

A barbela é uma particularidade, uma pele que desce da parte superior do bico, no lado esquerdo.

Ela geralmente regurgita uma semente. Para isso, usa todos os músculos do corpo para recolher o ar e devolvê-lo numa explosão, que depois ecoa sobre a floresta toda com um som forte e poderoso.

No rio Itacaiúnas, a equipe enfrentou outra operação para avistar mais bichos. Desta vez o grupo é grande porque requer esforço para subir o rio.

O guarda florestal, Deusivaldo, é guia e piloteiro. Os primeiros bichos são avistados no céu: a águia-pescadora e o gavião-tesoura.

Durante a subida do rio mais animais aparecem, andorinhas, tracajás, garças, martim-pescador. As espécies raras também não ficam de fora, como o urubuzinho da família do joão-bobo.

Quando a equipe se arrumava para ir embora, um primeiro presente: um anhambé-azul, também chamado de cotinga-caiana, pousa. O azul turquesa inebria, deu pra ver até detalhes como a garganta roxa, o diferencial da espécie.

O toron-toron, raríssimo foi o último a dar o ar das graças e cantar. A expedição encerrou com chave de ouro. Nem o fotógrafo, Edson Endrigo, que acompanhou a equipe durante a viagem tinha visto um.



http://eptv.globo.com/emissoras/NOT,0,0,340533,Os+maiores+tesouros+de+Carajas.aspx
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