Majestade ameaçada de extinção

O Globo, Ciência, p. 30 - 13/05/2009
Majestade ameaçada de extinção
Maior águia das Américas, gavião-real sofre com destruição das florestas

Carlos Albuquerque

Um filhote de dois meses e um outro, que deve nascer na próxima semana, na Floresta Nacional de Carajás, no sul do Pará, são, literalmente, sinais de vida para o gavião-real (Harpia harpya), uma das mais imponentes e ameaçadas aves de rapina existentes no Brasil. O animal tem sido monitorado naquela área, preservada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e em outras espalhadas pelo Brasil. O motivo de tanta atenção: ele é considerado pelo Ministério do Meio Ambiente como uma espécie com alto risco de extinção, um rei prestes a perder a sua majestade.

- A principal ameaça a esse animal é o desaparecimento do seu habitat, a substituição da floresta por uma pastagem, um garimpo ou uma plantação de arroz - explica a bióloga Tânia Sanaiotti, coordenadora do projeto Gavião-Real, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). - Quando esse habitat é reduzido, cai também a sua área de atuação, que é onde ele vive e caça.

O programa de conservação teve início em 1997, com a descoberta de um ninho perto de Manaus. Desde então, um time de doze pesquisadores têm se desdobrado para ampliar a localização de ninhos, além de estudar os hábitos alimentares e fazer a análise genética desses animais.

- Os poucos casais existentes no Brasil têm sido vistos em reservas na Mata Atlântica e na Amazônia, onde a floresta é mais vasta. Já contabilizamos 40 ninhos - conta a bióloga. - Mas experiências na Venezuela, mostram que ele consegue sobreviver em florestas com algum tipo de manejo e é isso o que estamos tentando fazer.

Considerado a maior águia das Américas (ocorre do sul do México ao norte da Argentina), o gavião-real - que pode medir um metro de altura e dois metros de envergadura, com as asas abertas - é um predador, carnívoro, que caça suas presas inclusive na copa das arvores, em pleno voo.

- Como é um bicho muito grande, em algumas áreas na Amazônia, os caboclos se assustem quando ele dá um rasante para caçar galinhas e, com medo de que ele ataque as crianças, passam fogo - diz Tânia. - Além disso, ele é alvo de caça ocasional, já que, com oito quilos, em média, é um atrativo considerável, quase um peru na mesa.

Segundo a pesquisadora, a própria biologia da espécie conduz o tipo de trabalho feito com ela na Floresta Nacional de Carajás, por exemplo, onde um casal avistado por moradores da região chamou a atenção dos integrantes do projeto. No local, foi descoberto também um outro ninho.

- Uma vez que o casal escolhe uma árvore, ele vai ficar ali pelo resto da sua vida. Você tem a garantia que ele vai sempre voltar àquele local. A base do nosso trabalho é manter a árvore de pé e também a floresta em torno dela, o que é bem mais complicado.
Hábitos alimentares também foram estudados
O monitoramento dos dois ninhos - feito graças à uma parceria com a Vale, o ICMBio e o Inpa - permitiu aos pesquisadores, entre outras coisas, acompanhar o nascimento de um filhote e saber do iminente nascimento de outro.

- Estudamos também o que ele come e o que ele caça, para mostrar aos moradores, que não está atrás de crianças. Ele quer mesmo é caçar preguiças e macacos nas árvores - explica a bióloga. - Marcamos alguns adultos para acompanhar a sua movimentação. Além disso, estamos estudando a sua variabilidade genética, para saber se há diferenças entre os animais da Amazônia e os que sobrevivem na Mata Atlântica.

O Globo, 13/05/2009, Ciência, p. 30
Biodiversidade:Fauna

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