Anavilhanas sofre devastação

OESP, Vida, p. A32 - 25/06/2006
Anavilhanas sofre devastação
Arquipélago fluvial a 40 km de Manaus, o maior do mundo, é alvo fácil das madeireiras

Talita Ribeiro, MANAUS

Tão famoso quanto o encontro das águas dos Rios Negro e Solimões, o imenso arquipélago fluvial das Anavilhanas, a 40 km de Manaus, é uma das principais atrações da Amazônia. No entanto, quem visita o lugar testemunha o contraste obviamente ocultado pela indústria do turismo: entre uma ilha e outra, flutuam milhares de troncos de madeira, aguardando o momento de serem apanhados, beneficiados e vendidos para o mercado de construção de Manaus.

A cena se repete com freqüência e preocupa as entidades que tentam proteger da devastação o maior arquipélago fluvial do mundo. Além da dificuldade de locomoção dos inspetores e da vastidão territorial, a fiscalização é dificultada por leis mal-empregadas, que, segundo ambientalistas, resultam em perda de biodiversidade e irracionalidade econômica.

"O arquipélago das Anavilhanas é instituído como Estação Ecológica. Essa categoria é uma das mais restritivas entre todos os tipos de Unidades de Conservação (UCs). Isso significa que, pela lei, não poderia haver qualquer atividade econômica ou mesmo moradores dentro da Estação", explica um dos coordenadores do Instituto de Pesquisas Ecológicas (Ipê) na Amazônia, Eduardo Bardialli.

A lei restringe a prática do turismo em Anavilhanas. Mas basta visitar Manaus para perceber que o roteiro pelo arquipélago é um dos chamarizes do turismo local.

"A regularização das atividades turísticas poderia ser um instrumento econômico para incentivar a preservação do hábitat e, ao mesmo tempo, gerar recursos vitais para a gestão da unidade", defende Bardialli. Mas, segundo ele, só legalizar a atividade não é suficiente para resolver o problema de Anavilhanas. "O turismo é sazonal. Precisamos de outras opções econômicas vinculadas", diz.

DESPERDÍCIO

A Estação Ecológica das Anavilhanas foi criada em 1981 no intuito de preservar as mais de 400 ilhas, que ocupam uma área aproximada de 380 mil hectares. Entre elas, o Rio Negro serpenteia e se ramifica em centenas de igarapés, canais e 600 lagos, abrigando uma incalculável biodiversidade. "Ao contrário da maior parte das Unidades de Conservação brasileiras, as Anavilhanas têm sua situação fundiária totalmente regularizada", lembra o analista ambiental Daniel Rios de Magalhães Borges, chefe da Estação Ecológica.

Segundo ele, as ilhas são alvos fáceis para os madeireiros. "Uma vez que a árvore é derrubada, ela já cai praticamente dentro d'água e de lá é facilmente rebocada de canoa."

A madeira mais visada é a da virola, uma árvore alta, fácil de ser serrada e transformada em tábua. Além de representar crime ambiental, esse tipo de atividade econômica gera uma renda muito baixa, explica Borges, já que a maior parte da virola é usada como azimbre - tábuas empregadas para conter cimento, usadas só uma vez e depois descartadas.

Aproximadamente 40% das ilhas já foram saqueadas. "Elas formam um grande labirinto. É muito difícil fiscalizar nessas condições", desabafa Borges.

Além da briga para a regulamentação do turismo, o Ibama trabalha na implantação de um projeto que visa a limitar as rotas de navegação dentro da Estação Ecológica a uma única via principal, o que facilitaria a fiscalização. "O Rio Negro é uma das principais vias de acesso fluvial. Não há como proibir que os barcos trafeguem. A idéia é estudar uma rota onde o impacto ambiental seria menor e delimitá-la com bóias. Quem estiver nos braços do rio fora dessa via principal será multado", explica Borges.

O Ibama tem previsão para colocar o projeto em prática somente no final de 2007, quando todas as medições e pesquisas estarão concluídas. Para os ambientalistas, precisa ser revista a categoria de Unidade de Conservação das Anavilhanas. Transformada em Parque Nacional, a questão econômica se resolve em parte.

Mas o tráfico de madeira está longe de ter um desfecho favorável. Mesmo com as multas, as grandes madeireiras enxergam viabilidade na derrubada. "Quem acaba levando a pior é quem vai lá à noite fazer o serviço sujo. É muito difícil descobrir quem financia tudo isso", diz Borges.

OESP, 25/06/2006, Vida, p. A32
UC:Estação Ecológica

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