Soluções para comunidade isolada precisam de escala

Valor Econômico, Especial/Energia, p. G5 - 28/08/2017
Soluções para comunidade isolada precisam de escala

Sergio Adeodato

De acordo com a mais recente pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui 200 mil domicílios sem iluminação elétrica, o que corresponde a cerca de 700 mil habitantes.
Grande parte se concentra no Estado do Amazonas, onde o isolamento da floresta dificulta o acesso à rede. Estima-se que lá a falta de energia atinja 70 mil residências, escolas, postos de saúde e demais unidades consumidoras, no total de 300 mil pessoas.
"Levar soluções tecnicamente viáveis e de baixo custo a essas regiões é um grande desafio para a universalização do acesso à eletricidade, com inclusão social e produtiva", diz o engenheiro Geraldo Arruda, especialista da área de renováveis da Eletrobras Amazonas.
Após projeto piloto em 12 comunidades para demonstração do custo-benefício, a estratégia inicial da empresa para aumentar a escala será instalar 42 mini usinas fotovoltaicas em povoados dos municípios de Barcelos, Carauari, Japurá e São Gabriel da Cachoeira, permitindo iluminação e uso de refrigerador, televisão e ventilador - além de computadores, nas escolas.
O objetivo é atingir 2,4 mil domicílios, com investimento de R$ 79, 4 milhões, 90% por meio de subvenção do Ministério das Minas e Energia, onde o programa de obras aguarda aprovação. "Chegamos a um modelo que se comprovou competitivo, mas nas próximas fases, dependendo do resultado de novos estudos, poderemos diversificar a fonte energética para também utilizar biomassa, como óleos vegetais, e até sistemas mistos incluindo a energia cinética da correnteza dos rios e a eólica, propícia em algumas regiões amazônicas", diz Arruda.
"A Amazônia tem a peculiaridade de abrigar áreas de características distintas, o que exige soluções também diferentes para o fornecimento de energia", concorda Virgilio Viana, superintendente geral da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), para quem "faltam políticas eficientes". O déficit dificulta a conservação e o beneficiamento da produção extrativista e como resultado limita avanços na geração de renda e no modelo de desenvolvimento que mantém a floresta de pé, o que gera êxodo para as grandes cidades. Em busca de alternativas, a instituição testou com sucesso um sistema híbrido de placas solares e gerador a diesel, em parceria com a Schneider Eletric, na comunidade ribeirinha Tumbira, localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Negro.
Em Solimõeszinho (AM), a Coca-Cola Brasil apoia a utilização de energia fotovoltaica para bombeamento e tratamento da água de rios e igarapés, na expectativa de reduzir a incidência de doenças hídricas e os atuais custos com diesel - combustível fóssil e poluente largamente consumido na Amazônia para abastecer geradores de energia nas comunidades ribeirinhas e termelétricas, nas cidades.
O consumo total é de 1 bilhão de litros de óleo por ano somente no Amazonas.
A matriz energética suja, baseada em fonte não renovável emissora de carbono, contrasta com o papel da floresta para o equilíbrio do clima global. Paradoxos amazônicos que marcam também a realidade de São Raimundo, povoado de Itacoatiara (AM) que se localiza ao pé das torres do Linhão de Tucuruí e vive na escuridão. Sem dinheiro para comprar diesel e ter energia para puxar água do rio, os moradores são obrigados a caminhar longas distâncias com tonéis nas costas para abastecer as casas. Na falta de freezer, carne e peixe são conservados no sal. E o projeto de criar tambaqui em cativeiro permanece na gaveta.
Em outros locais da Amazônia, inovações são testadas com promessa de ganhar escala e melhorar a vida dos habitantes. No caso da iluminação, a novidade está no projeto da ONG Litro de Luz, que levou para a região a engenhoca idealizada pelo inventor brasileiro Alfredo Moser ao misturar água e alvejante dentro de uma garrafa PET, fazendo-a funcionar igual a uma lâmpada de 60W, sob a incidência de luz. Após beneficiar comunidades da Amazônia mobilizadas para receber e cuidar das instalações, a solução inspirou novos avanços: postes e lampiões à base de energia solar que em setembro serão instalados para iluminar um povoado quilombola Kalunga hoje refém da lamparina, na região da Chapada dos Veadeiros (GO). A iniciativa compõe o projeto da Agência Goiana de Habitação destinado à construção de novas moradias para a comunidade, atingida por enchente no ano passado.

Valor Econômico, 28/08/2017, Especial/Energia, p. G5

http://www.valor.com.br/brasil/5096382/solucoes-para-comunidade-isolada-precisam-de-escala
Amazônia:Políticas de Desenvolvimento Regional

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